Antonio de Albuquerque
Sorrindo de alegria, num espaço sublime entre contos, encantos e poesias.
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Sonho de Menino

O menino sonhou falar com uma flor que morava no alto da serra, lugar misterioso para ele, porque o sol ao se despedir todas às tardes beijava a serra. O dia amanhecia numa canção de alvorada, o menino subia a montanha na esperança de se encontrar com a flor que havia visto em sonho. Açucena uma flor rara naquela região, e que só se mostrava na primavera, portanto, seria um privilégio poder falar-lhe, e tinha pressa, sabendo que a flor se mudaria para outro lugar, conforme sua mãe havia lhe ensinado. Caminhava com passos miudinhos de criança, porém, apressados temendo chegar tarde e a flor já haver se mudado de lugar.

Exausto pela subida resolveu sentar-se à sombra de uma gameleira para melhor observar, quando bem perto avistou a flor. O menino foi tomado por surpreendente alegria, e dirigindo-se a ela, disse: — Olá, florzinha sonhei com você, por isso vim vê-la. — Eu sei! Nós nos encontramos em sonho, eu também quero lhe falar, respondeu a flor, ainda orvalhada pelo sereno do alvorecer. — Sim, é verdade, mas o que faz você nesse lugar tão deserto? Existem lugares onde você pode ser vista com mais facilidade e mostrar sua exuberante beleza e felicidade. — Não estou sozinha, sou um enfeite da natureza, as outras plantas me fazem companhia e estou aqui para tornar esse lugar mais encantador, esta é minha missão. Em meu mundo encantado, sou vista por poucos, e você é um privilegiado por ter o direito de me ver e ouvir. Em breve não mais estarei aqui, mas no curso normal de sua vida, você me verá e com outras flores conversará, e também ouvirá bons conselhos. Nem sempre nos verá em forma de flor, por sermos encantadas nos mostramos como convém à natureza.

Ao longo de sua existência, procure amar a vida, a liberdade e a natureza e, assim, terá momentos fascinantes em sua longa e luminosa vida. — Sim, farei isso, mas não vá embora, dê-me a esperança que ficará aqui para falar comigo outras vezes. Eu me sinto tão só! Prometa não ir embora, eu preciso conhecer tantas coisas, você pode me ensinar o que é a morte, a vida, minha origem, meu destino. Assegure-me que nunca morrerá, não quero lhe perder. —Ora, menino! As flores não morrem, a morte não existe, é só uma palavra, uma mudança, uma passagem, não é um final, só existe a vida, essa, sim, é eterna. As flores são enlevadas pela natureza a outros lugares para encantar, trazendo a felicidade e alegria. Assim como fazem os passarinhos, as borboletas e também, os vaga-lumes que enfeitam as noites com pequenas luzes, anunciando a claridade de um novo dia. — Você é tão linda, amanhã voltarei a vê-la, disse o menino. Num gesto de carinho beijou suas pétalas umedecidas pelo orvalho da manhã e prometeu voltar no dia seguinte ao nascer do sol. Com grande alegria, desceu a montanha sob um sol de manhã sorridente.

Em sua mente conduzia à flor, imagem do amor florescendo em seu coração. Na manhã seguinte voltaria na esperança de encontrar-se com açucena. Num lindo arrebol o menino corando de alegria subiu a montanha encontrando no lugar, um pomar com belíssimas flores, árvores floridas, outras carregadas de frutos e, madeiras com imensos favos de mel, mas não vendo a flor, permaneceu em silêncio a pensar: Você é tudo que eu vejo nesse vergel de grande beleza; a natureza, o amor, a grandeza, e é também você, o silêncio, o brado dos que não falam, pois é no silêncio que faço minhas preces, adoro o sol, as estrelas, choro e me alegro. Amo e falo com você, minha adorada flor. Com os olhinhos marejados, mas radiantes de felicidade e alegria, e o pensamento sonhando, o menino contemplou o sublime encantamento, e guardou tudo em segredo por toda a sua infância.
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 06/01/2016
Alterado em 07/03/2019