Antonio de Albuquerque
Sorrindo de alegria, num espaço sublime entre contos, encantos e poesias.
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Antonio de Albuquerque

 
O Resgate I

 
As balas ricocheteando zuniam, num som agudo entre as ramarias sobre suas cabeças. Naquela sofrida manhã, um grupo formado por jovens com idade entre l8 e 25 anos, haviam sido abandonados na selva, com a vã promessa de serem resgatados. Aflitos, fugiam de guerrilheiros que queriam executá-los acusados de traição. Estavam desarmados conduzindo colegas doentes sem as mínimas condições de defesa. Eram sonhadores enganados por criminosos inimigos do poder constituído. Era noite quando acamparam para cuidarem dos enfermos e dormirem em silêncio, prevendo um ataque surpresa do inimigo. Pedro sabia que os dirigentes da guerrilha eram criminosos que só o tempo mostraria a nação— Se não fosse sua presença, estaríamos perdidos, disse Aída, uma jovem integrante do grupo. ─ Não se iluda, a luta na selva acabou a qual vocês nem participaram, mas o que precisam fazer é sair deste lugar. Seguindo minhas instruções chegarão à cidade. Pedro havia sido contratado para aquela missão difícil, mas não impossível e em simples versos evidenciou sua profunda preocupação.

Não me sinto feliz vivenciando/ Maldita guerra entre amados irmãos / Feliz era minha infância /Nos dias dourados de sol /Brincando com meu cachorro /Colhendo mel de abelhas. / Caminhando pelos campos/Abraçando minha Rosa/ Recebendo afagos da minha mãe. / Hoje retido em pensamentos, /Com olhos pejados de lágrimas/ O espirito embrulhado em dores, /Não consigo conciliar o sono. /Vivo a dor dos irmãos abatidos/ Pensando em tristes incertezas/Fruto de escolhas enganosas.

Era manhã e estavam todos levantados para ouvir a palavra de Pedro, que disse: não convém manter a retirada com pessoas doentes, o caminho é perigoso, mantenham-se acampados, aqui é mais seguro, procurarei uma saída que me permita conduzi-los em segurança, Luiza tem experiência e ficará no comando. Despediu-se, fazendo recomendações e adentrou a floresta. Junto a uma corredeira, exausto, parou para repousar, e como medida de segurança ocultou-se entre folhas de sororocas e palmeiras. Pensando no risco que os jovens corriam no acampamento, lembrou-se de Aída, mulher com jeito de criança. Enlevado em pensamentos, enxergou uma revoada de araras embaixo da cachoeira e sentiu que era hora de sair daquele lugar, poderia não estar só e continuou descendo com dobrada atenção em tudo que se movia. Chegou a noite e precisou de um lugar para dormir, por não mais suportar caminhar à noite entre; onças, serpentes e solidão que o amedrontavam. Era noite quando encontrou uma frondosa árvore e entre sacupembas fez um esconderijo e deitou ouvindo o esturro de onças, macacos guaribas, e outros bichinhos da mata.

Ao romper da aurora estava de pé. Chovia, havia intensa cerração, precisava esperar o Sol nascer para prosseguir. Alimentou-se de castanhas e seguiu pela encosta. Tinha pela frente pelo menos mais três horas de viagem. Escutou um tiro, e sendo um bom armeiro percebeu não ser de espingarda. Só restou correr até sair da possível mira do atirador. Finalmente chegou ao Tapiri aonde Antônia o esperava, parceira que se mantinha na retaguarda. Antônia permanecera naquele lugar colhendo informações junto aos moradores da floresta, sobre a presença de estranhos que pudessem oferecer perigo a missão. Pedro estava em estado físico deplorável; pés sangrando, braço cortado pelo cipó-serra e roupa rasgada. Foi tranquilizado por Antônia que procurou curar os arranhões no corpo do exausto parceiro em missão.

Bando de guerrilheiros haviam passado há dois dias e haviam vasculhado a cabana. Sabiamente Antônia assistiu tudo à distância até que saíssem. Estas informações o preocupavam, mas naquele momento precisava de repouso, depois cuidaria do assunto. Mergulhou no igarapé, vestiu roupa limpa, se alimentou e dormiu numa rede limpinha ofertada pela moça. Refez-se, e ao despertar, sentiu cheiro de alimento. Antônia havia preparado um rabo de jacaré ao molho de leite de castanha-da-Amazônia, cebola, cheiro verde, farinha de tapioca, um delicioso jantar. Pedro elogiou o prato, sentou-se no terreiro do Tapiri sob um florado Pau-d’arco, admirando as lindas formas de Antônia, o que lhe despertou em um impetuoso desejo e silenciosamente abraçou-a dum jeito que só os amantes conhecem, envolvendo seu corpo, beijou-lhe o rosto e sua boca orvalhada, suas mãos acariciaram seus seios firmes e macios e mergulhou em seu encanto, entregando-se ao fecundo amor numa felicidade indizível. Dormiram juntos na rede que ela lhe ofertara, tendo como testemunho as estrelas e a força da esplendorosa floresta. Ao sentirem o frescor da manhã, despertaram com o piar dos passarinhos num amanhecer de arco-íris. — Não nos víamos a algumas semanas, senti saudade, disse Pedro. — É verdade, as noites frias na floresta sem sua companhia foram sofridas e a maior dor é a incerteza do amanhã, mas a escolha foi nossa, aceitando essa missão, adiantou a bela jovem, e numa profunda reflexão dedicou a Pedro algumas palavras em forma de verso. Vida, esperança, aroma espaço sublime /Estrelas salpicando de luz nosso amor/Lindo sonho de ventura /Inspirações trazendo recordações /Nessa estância de amores, sublime ternura, /Doce acalanto e afeto/ Que se desdobra qual o perfume da flor/ Com a alma embrulhada em pensamentos/ Mergulhando na minha dor/ Sozinha, lembro teu doce encanto. Lembranças plenas de fascínio e beleza. / O que seria o amanhã sem você!!!


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Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 11/08/2019
Alterado em 15/08/2019
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